Um mapa é uma representação de informações espacializadas. É um recurso utilizado quando textos, quadros ou tabelas não são o suficiente. Sua função é ilustrar um fenômeno, ou seja, ajudar o leitor na compreensão de um aspecto.
Para produzir um mapa é necessário entender a linguagem da cartografia. Essa linguagem define alguns elementos obrigatórios que um mapa deve apresentar para ser considerado um mapa. São eles: título, norte, fontes, escala e legenda. Porém, apenas esses elementos não vão tornar um mapa funcional. Um mapa que cumpra os objetivos de ilustrar uma pesquisa da melhor forma possível.
Nesse post eu listei diversos componentes necessários para que o seu mapa seja útil e eleve o nível de possibilidade de compreensão da sua pesquisa pelos leitores. A ordem apresentada aqui é de acordo com uma hierarquia de importância. No final do post tem um vídeo explicativo para te ajudar a inserir os elementos fundamentais em um mapa usando o QGIS e um exercício de análise de mapas feitos por mim. Boa leitura e bom trabalho.
Quer sair do zero e elaborar mapas completos e complexos, com dados e informações organizadas e legíveis em um curso de apenas 6h?
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Elementos fundamentais
São as informações fundamentais do mapa, aqui eu trouxe os elementos obrigatórios da cartografia: os título, legenda, norte, escala e fontes; e dois adicionais: dados e rótulos, para aumentar o vocabulário e a compreensão da importância desses elementos.
Dados: Existem dois tipos de dados em geoprocessamento, as imagens raster e os vetores. As imagens raster são dados que contém informações por pixel. Quanto maior a resolução, mais informações. Já os vetores são dados de geometria. São os pontos, linhas ou polígonos. A escolha do tipo de dados mais adequada para o seu mapa depende do tema dele. Rasters são mais utilizados para representações contínuas e os vetores para informações delimitadas. É possível mesclar os dois tipos de dados no mesmo mapa.
No próximo post vou entrar em detalhes sobre os tipos de representação, funções a análises de possíveis para cada um deles. Clique aqui e inscreva-se na newsletter para receber um aviso quando esse post estiver no ar.
Título: É a descrição resumida do conteúdo do mapa. O título vai guiar a interpretação dos dados apresentados. É importante citar o nome do objeto de estudo do mapa (bairro, município ou região). Caso o mapa seja uma reprodução ou baseado em grande parte por informações disponibilizadas por terceiros também é necessário citar essas fontes.
Legenda: É a explicação do que significada cada representação do mapa. A ordem padrão é ponto, linha polígono. Mas, quando se trata de um mapa temático, pode ser que essa ordem tenha alterações. As legendas mais importantes ficam acima das demais.
Rótulos: São descrições dos dados e trabalham em conjunto com a legenda. Por exemplo: em um mapa com rodovias listadas na legenda, rótulos com os nomes das principais rodovias em cima das linhas correspondentes são úteis. Os rótulos são os elementos mais difíceis de configurar, pois depende da quantidade e qualidade das informações na tabela de atributos dos dados usados. Um post sobre essa tabela também está na programação, caso ainda não tenha feito isso, clique aqui e inscreva-se na newsletter para receber um aviso quando esse post estiver no ar.
Norte: É a referência da posição do recorte mapeado em relação ao norte da realidade. É utilizado um ícone com algum tipo de indicação de direção. Se a indicação aponta para cima, significa que o mapa está alinhado com o norte real. Caso esteja inclinado às 25º, significa que o mapa está rotacionado em 25º em relação ao norte real e assim por diante.
Escala: É a referência de medidas. Aqui no Brasil ou países que usam medidas métricas, pode ser em metros ou quilômetros (nos EUA se usam pés e milhas). Na escala 1:1.000, 1 cm do mapa equivale a 1.000 cm na realidade, ou 10 metros. A escala gráfica (representação gráfica desse 1 cm) é essencial para documentos onde o mapa será visto mais frequentemente de modo digital. Se o mapa for analisado de modo impresso, uma escala numérica conhecida (1:1.000; 1:10.000; 1:25.000) facilita a leitura com o auxílio de um escalímetro.
Fontes: É uma lista com todas as fontes dos dados utilizados na produção do mapa. Como por exemplo instituições (IBGE, Prefeituras) e o ano desses dados. Fica assim: IBGE (2010).
São informações inseridas no mapa para facilitar o reconhecimento da localização do recorte mapeado pelo leitor. Essas informações variam de acordo com o tema do mapa. As mais utilizadas são:
Físicas: Hidrografia (rios, lagos, represas, mar), áreas verdes (remanescentes florestais), sistema viário (rodovias, vias principais, vias locais), fragilidades ambientais (relevo com declividades acentuadas, aquíferos) e pontos de interesse de importância global (aeroporto, atração turística).
Políticas: limites (nacionais, estaduais, municipais), Áreas de Proteção Ambiental (APAs), sedes (capitais nacionais, estaduais, prefeituras municipais).
Elementos complementares
São outros recursos complementares usados para facilitar ainda mais a localização e a identificação do recorte mapeado em um documento. São eles:
Mapa de localização: É um outro mapa, menor em dimensões que o principal, que represente o recorte do estudo em uma escala mais ampla. Por exemplo, um mapa da cidade de Curitiba pode ter um mapa de localização da cidade em uma mapa do Brasil ou do Paraná.
Raios de distância: São círculos que representam a distância do entorne em relação à algum ponto do mapa. Por exemplo, raios de distância de 10 em 10 km em relação ao centro da cidade polo em relação à outros municípios de uma região.
Grid de coordenadas: É uma representação da posição do recorte mapeado nas coordenadas. Pode ser uma malha ou apenas indicações nas bordas, usualmente bordas superior e lateral direita. Aqui o objetivo é a localização do recorte mapeado com uma abordagem bem específica. O grid é muito utilizado em pesquisas que usam equipamentos de GPS (Global Positioning System ou Sistema de Posicionamento Global). No caso da utilização do grid é necessário informar o sistema de coordenadas utilizado, por exemplo: DATUM Sirgas UTM 22S.
Sobre o documento: Dependendo do tipo de documento onde o mapa está inserido, algumas informações podem ajudar na organização e identificação. Como por exemplo: paginação, número do anexo, data de elaboração, data de revisão. A lógica é a mesma da utilizada em pranchas de projeto de arquitetura.
Paleta de cores
As cores da representação devem ter uma coerência, seguir uma paleta. O objetivo esse texto não é adentrar em nenhuma teoria cromática (cores opostas, complementares), mas algumas noções são importantes. Uma escolha de cores acertada vai trazer harmonia para o seu mapa. Além de influenciar diretamente na legibilidade dele.
A primeira coisa que deve ser feita é a identificação dos elementos que o seu mapa contém e pensar na hierarquia dessas informações. Por exemplo, alguns elementos fundamentais não são os protagonistas do seu mapa. Já vi muitos mapas com nortes grandes e detalhados. Como rosa dos ventos com pontos cardeais, colaterais, intermédios e, ainda, com diversas cores. Um símbolo simples como um círculo e uma linha (logo da Qualimapas) já é o suficiente na maioria dos casos. Outro exemplo: um mapa de localização em preto e branco e o mapa principal colorido ajuda a conduzir a leitura.
Eu acredito que elementos de plano de fundo devem ter cores mais suaves e os principais devem ter cores mais fortes. Agora a definição do que é o plano de fundo ou a base do mapa vai depender mais uma vez do tema do seu mapa. Por exemplo, um mapa de localização deve ter limites mais visíveis. Já um mapa temático de bacias hidrográficas deve ter a hidrografia mais visível.
Deu para perceber que a paleta de cores caminha em conjunto com a representação dos dados. Você vai destacar o que é mais importante e vice-versa. O próximo post vai ser sobre representação de raster e vetores, funções e análises possíveis para cada um deles. Caso você ainda não tenha feito isso, clique aqui e inscreva-se na newsletter para receber um aviso quando esse post estiver no ar.
Entorno
Informações sobre o entorno do seu objeto de estudo aumentam a legibilidade do mapa. Provavelmente seu recorte de estudo está inserido em algum contexto. A única exceção seria se seu objeto fosse uma ilha remota com apenas acessos aéreos (caso tenha alguma outra, deixa um comentário no final do post).
A necessidade do entorno nos mapas é um pouco óbvia, mas já vi muitos “mapas ilha” por aí. Os causas e efeitos desse fenômeno devem ser investigadas (quem quiser entrar nessa pesquisa deixa um comentário também).
Vídeo explicativo
Confira no vídeo abaixo como inserir os elementos fundamentais no seu mapa pelo QGIS:
Exercício - análise de mapas
Os mapas a seguir foram produzidos por mim para a minha dissertação de mestrado em curso, no Programa de Pós Graduação em Planejamento Urbano da Universidade Federal do Paraná (PPU – UFPR).
O primeiro é um mapa de localização do recorte de estudo, o Núcleo Urbano Central de Curitiba (NUC), denominado pela Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC). Esse recorte está situado dentro da Região Metropolitana da Curitiba (RMC). Ele consiste em 14 municípios que incluem a capital do Paraná (Curitiba) e outros 13 municípios que têm maior interação com a capital. Também reconhecido como a Área Conurbada de Curitiba.
Localização do Núcleo Urbano Central de Curitiba (NUC)
O segundo mapa é uma espacialização de um índice socioeconômico construído a partir de dados do Censo IBGE 2010. O método utilizado foi replicado da dissertação de mestrado de Kronenberger (2016) e engloba dados de renda, educação, habitação, infraestrutura e vizinhança por setor censitário.
Índice socioeconômico do NUC a partir de dados do Censo IBGE 2010
1. Você consegue identificar quais são os elementos fundamentais, facilitadores e complementares dos mapas?
2. Quais as suas impressões sobre a paleta de cores utilizada?
3. Qual a importância da representação do entorno do NUC em cada mapa?
Se você gostou desse post e tem sugestões para os próximos deixe um comentário aqui em baixo.
Referências:
KRONENBERGER, Bruna da Cunha; SABOYA, Renato Tibiriçá De. Entre a servidão e a beira-mar: um estudo configuracional da segregação socioespacial na Área Conurbada de Florianópolis (ACF), Brasil. Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, [S. l.], v. 11, p. 1–21, 2019. DOI: 10.1590/2175-3369.011.e20170227. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2175-3369.011.e20170227. Acesso em: 17 fev. 2022.
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Título, legenda e demais informações!
Ótimo artigo, bem didático!
Porém, há apenas uma ressalva. Na parte onde explica a escala do mapa houve um equívoco, quando diz: “Na escala 1:1.000, 1 cm do mapa equivale a 1.000 metros na realidade.”
O correto seria: Na escala 1:1.000, 1 cm do mapa equivale a 1.000 cm na realidade ou 10 metros.
Abraço!
Obrigada pela observação Hélio!
Parabéns pela iniciativa de capacitar os atuais funcionários e futuros profissionais da área. Criando a cultura do Geoprocessamento, assim nossos administradores e gestores saberão onde investir o nosso dinheiro. Tendo como base, a ciência.